segunda-feira, 22 de junho de 2009

Café Teólogico
Primeira Palestra – Ms. Marcos Monteiro

As pesquisas têm avançado na área do novo testamento, muito tem sido descoberto, o que tem promovido um melhor olhar para os textos neotestamentários.
Foi possível perceber que o Evangelho de Marcos serviu como fonte para os demais evangelhos O Jesus apresentado em Marcos é um Jesus que está sempre em ação, diferente dos outros evangelhos. O Jesus em Marcos é o que foge das multidões, ele sente necessidade de afastar destas.
Verifica-se que há um destaque para o sentido das palavras aplicadas na literatura em Marcos, ou seja, essas palavras podem ampliar as possibilidades dos sentidos (polissemia).
Um detalhe importante que precisa ser destacado no Evangelho de Marcos está centrado na tradição. Sendo que é a mesma atribui a ele o titulo de autor desse evangelho, não duvidando da sua autenticidade ainda que no texto não mencione seu nome. Outro dado importante extraído na palestra está na perspectiva do “Principio de boas novas”, ou seja, um testemunho da pessoa de Jesus Cristo, Filho do homem.
Segundo a perspectiva do palestrante Marcos Monteiro o evangelho de Marcos foi escrito fora do contexto da palestina, provavelmente tenha sido na capital do Império. Visto que ele procura explicar expressões vindas do aramaico. O que denota que o mesmo está falando para pessoas que vivem fora do ambiente judaico cristão, (c.f. Mc 5,41). Uma outra abordagem que fundamenta este olhar é a influencia do apóstolo Paulo na maneira do evangelista escrever; o que nos permite pensar que o autor seja um judeu transplantado em uma comunidade cristã romanizada.




Segunda Palestra – Dr. Ágabo Borges de Sousa.
Titulo: O reino de Deus no evangelho de Lucas.


Segundo Dr. Ágabo Borges, o Evangelho de Lucas dá uma atenção especial ao pobre, mulheres e crianças, atribuindo-lhe uma identidade social. Observa-se que nessa perspectiva o ministério de Jesus, é apresentado como tendo em seu centro o anuncio do Reino, que é dirigido aos desprivilegiados, especialmente aos pobres.
O Evangelho de Lucas é basicamente estruturado em três partes: As atividades de Jesus na Galiléia (1-9,50); A viagem (9,51-19,27) e Jesus em Jerusalém (19,28-24,53 sendo 24.13-53 sua partida de Jerusalém).
Conforme Dr. Ágabo não há como desligar o Reino de Deus do ministério de Jesus, Como também em Lucas não há como desligar a Ação Social de Jesus da proposta de Reino de Deus.
Nota-se que no Evangelho de Lucas existe um acentuado destaque a tradição profética isaianica também como a base do ministério de Jesus, apresentando no início de seu ministério com a experiência da sinagoga de Nazaré. A ênfase da tradição profética pode ser percebida na leitura do livro do profeta Isaias, quando Jesus lê o texto na sinagoga (cf. Is 61.1).
Um outro destaque que Lucas dar é para as mulheres, pois é o único evangelista que menciona com detalhe o nome das mulheres. O que demonstra o interesse em tratar as mulheres como pessoas, sem necessariamente limitar seus valores com os homens como era comum na época. Um destaque a salutar é a coragem que as mulheres teve de ir ao sepulcro de madrugada.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Os Fariseus

Embora existam muitos temas abordados hoje no campo teológico, falar sobre fariseus é sempre algo instigante. Este tema pode nos levar a oceanos de descobertas. Mas o porquê falar deles nos século XXI? Conhecer a história apenas por um viéis pode produzir no leitor uma concepção unilateral dos fatos. Pois, quando a história é contada pelo vencedor é vista de uma forma, quando pelo perdedor é vista por uma outra perspectiva. Daí a importância de conhecê-la de forma holística para reparar algumas injustiças e mostrar alguns elementos que possivelmente possa ter ofuscado a importância do grupo dentro de um contexto histórico, cultural e social.

Este movimento teve no passado marcas políticas entrelaçadas com a religião que produziram ao nosso vê uma idéia de revolta e uma imagem que perdura até hoje na mentalidade da religião judaico-cristã.
Para se falar dos fariseus, se faz necessário uma reflexão com as seguintes indagações: Os fariseus realmente eram hipócritas? Eram também orgulhosos? A critica do Cristo fundava-se no fato que eles desprezavam as coisas essenciais da Lei? Será que as atenções deles estavam voltadas para minúcias da Lei?.

Acreditamos que estes questionamentos podem produzir respostas surpreendentes a cerca dos fariseus numa outra perspectiva, analisando para tanto, seu ambiente de formação, sua cultura, seus ideais em seu contexto.
Este grupo denominado fariseus aparece na história num período posterior ao segundo templo. Pois é nesse momento que os valores e tradições do judaísmo se enfraquecem diante das culturas imperialistas que dominavam a Palestina.

O desejo de zelarem pela Lei, tornaram os fariseus guadiões desta, o que parecia ser algo mais puro e ortodoxo. “De uma maneira muito significativa o farisaísmo correspondia a uma revolução sócio-religiosa. Visava uma transformação interna da vida judaica através das instituições democráticas e universais já existentes na sinagoga e nas instituições de estudo. Seus efeitos se fizeram sentir não só na Judéia como nos lugares mais remotos do mundo de então”.

Diante do exposto, pretende-se aqui fazer uma releitura da historia dos fariseus apontando aspectos relevantes de um grupo de maior proeminência na era judaico-cristã. Observando detalhes que possibilitará uma análise mais criteriosa dos fariseus, permitindo uma nova percepção do farisaísmo em nossos dias.



Quem eram eles?

“O nome “fariseus” deriva muito provavelmente do hebraico p’erushim ou do aramaico p’ erishajja= os separados. O início do movimento farisaico remonta ao tempo dos macabeus, quando era necessário defender a fé judaica contra a alienação helenista. Em 1 Mc 2,42 menciona-se uma reunião de “assideus, israelitas fortes corajosos e fiéis à Lei”. Destes círculos dos ch’assidim, isto é, os piedosos, pilares da sublevação macabaica, nasceram os fariseus. Era um grupo de Judeus fiéis à Lei, sem objetivos políticos, mas unicamente impulsionados pelo zelo da Lei, segundo a qual Israel deveria viver.[1]


A história apresenta os fariseus como um grupo religioso sem coração, legalistas e de uma hipocrisia repugnante. Se olharmos atentamente, essa imagem é construída com base em conflitos tardios entre judeus e Cristãos, que nos parece um pouco conveniente pensar dessa forma. (texto em construção)

[1] LOHSE. Eduard – Contexto e ambiente do Novo Testamento - editora Paulinas
O desejo de zelarem pela Lei, tornaram os fariseus guadiões desta, o que parecia ser algo mais puro e ortodoxo. “De uma maneira muito significativa o farisaísmo correspondia a uma revolução sócio-religiosa. Visava uma transformação interna da vida judaica através das instituições democráticas e universais já existentes na sinagoga e nas instituições de estudo. Seus efeitos se fizeram sentir não só na Judéia como nos lugares mais remotos do mundo de então”.
Diante do exposto, pretende-se aqui fazer uma releitura da historia dos fariseus apontando aspectos relevantes de um grupo de maior proeminência na era judaico-cristã. Observando detalhes que possibilitará uma análise mais criteriosa dos fariseus, permitindo uma nova percepção do farisaísmo em nossos dias. Quem eram eles?

“O nome “fariseus” deriva muito provavelmente do hebraico p’erushim ou do aramaico p’ erishajja= os separados. O início do movimento farisaico remonta ao tempo dos macabeus, quando era necessário defender a fé judaica contra a alienação helenista. Em 1 Mc 2,42 menciona-se uma reunião de “assideus, israelitas fortes corajosos e fiéis à Lei”. Destes círculos dos ch’assidim, isto é, os piedosos, pilares da sublevação macabaica, nasceram os fariseus. Era um grupo de Judeus fiéis à Lei, sem objetivos políticos, mas unicamente impulsionados pelo zelo da Lei, segundo a qual Israel deveria viver.[1]” A história apresenta os fariseus como um grupo religioso sem coração, legalistas e de uma hipocrisia repugnante. Se olharmos atentamente, essa imagem é construída com base em conflitos tardios entre judeus e Cristãos, que nos parece um pouco conveniente pensar dessa forma.
[1] LOHSE. Eduard – Contexto e ambiente do Novo Testamento - editora Paulinas

De acordo com a proposta, falar dos fariseus hoje remonta um conjunto de elementos estruturais da sociedade palestinense. Desta forma, e com a problemática levantada, o presente texto caminhará pelo viéis sociológico compreendendo para tanto: A sociedade palestinense e as fontes literárias. Sendo que a primeira se apresenta da seguinte forma:

1) O problema dos grupos judaicos na Palestina;
2) Uma abordagem sociológica;
3) Classes sociais na sociedade judaico-palestinense e no Império Romano;
4) Relações sociais e grupos na palestina; Em se tratando de fontes literárias a proposta caminhará da seguinte forma:
5) Fariseus e saduceus como grupos de interesse político em Flávio Josefo;
6) Descrição dos fariseus e dos saduceus em Flávio Josefo;
7) Paulo, o fariseu;
8) Fariseus, escribas e saduceus em Marcos e Mateus;
9) Fariseus, escribas e saduceus em Lucas - Atos e João;
10) Fariseus e saduceus na literatura rabínica.

O problema dos grupos judaicos na Palestina

A partir de análises bibliográficas as pesquisas sobre os fariseus apontam grandes lacunas no verdadeiro papel deste grupo na sociedade palestinense. Não somente eles como também outros grupos que foram relevantes do final do primeiro século a.C. até início do segundo século d.C. Para Saldarini[1] os estudiosos têm descrito os fariseus como seita do judaísmo, um poderoso grupo de liderança religiosa, um grupo de comando político, um grupo de letrados, um movimento leigo em concorrência com o sacerdócio, um grupo de artesãos de classe média ou alguma combinação de tudo isso.

Na maioria das reconstruções históricas da sociedade judaica as categorias usadas para descrever esses grupos – tais com seita, escola, classe alta, liderança leiga etc. – são mal definidas ou usadas incorretamente, e na integradas em uma compreensão da estrutura e do funcionamento geral da sociedade. Pg. 15

Por mais que existam muitas pesquisas e muitas hipóstases levantadas acerca dos fariseus, a superficialidade pode torná-los mal compreendidos. Haja vista que, alguns fragmentos neotestamentário apontam os fariseus como oponente de Jesus. O que se pode notar é que embora se faça uma análise literária dos textos de Josefo que foi um grande historiador do período utiliza-se as crenças não somente dos fariseus mais também saduceus como atributo geradores e definidores do grupo.

Os fariseus, os escribas e os saduceus, como uma diversidade de judeus, como pensadores e líderes, devem ser vistos com parte da sociedade judaica palestinense e cuidadosamente situados e descritos em conexão com outros líderes judaicos e movimentos sociais de 200 a.C. a 100 d.C. Os líderes judaicos incluíam o sumo sacerdote e os chefes dos sacerdotes, anciãos e notáveis que eram provavelmente, os reconhecidos chefes de famílias proeminentes em âmbitos local e nacional. Tais líderes eram assistidos por diversos grupos. Os servidores das famílias abrangiam burocratas, soldados e funcionários associados aos hasmoneus, aos herodianos e aos romanos, bem como os funcionários do Templo e oficiais ligados aos chefes dos sacerdotes. Pg. 16

Religião na sociedade antiga

A idéia pré-estabelecida sobre política e religião advindas de uma sociologia moderna e teoria política, acentua veementemente ou ordinariamente a separarem a religião da sociedade política. Saldarini diz que é preciso uma atenção especial acerca da religião e funcionários especializados na sociedade de outrora.

A separação entre Igreja e Estado e a ênfase no compromisso de fé individual e privada como fundamento da religião eram desconhecidas na Antiguidade, à religião achava-se incrustada na estrutura política e social da comunidade. A crença e a prática religiosa faziam parte dos grupos familiares étnicos e territoriais em que as pessoas nasciam. Elas não escolhiam sua religião, tampouco a maioria das unidades ou grupos sociais possuía membros com religiões diferentes. A religião era inerente a tudo o mais e era-lhe inseparável. As pessoas podiam cultuar novos deuses, além dos tradicionais, e participar de práticas cúlticas adicionais, mas eles permaneciam o que eram cultural e socialmente. Uma conversão radical a outra religião e a rejeição das próprias crenças e comportamentos herdados significavam (e ainda hoje significam para tais sociedades) alienação e separação da família e do grupo social hereditário. O envolvimento com a religião é em si mesmo, compromisso político e social no sentido amplo de tais termos.

Embora haja toda uma ligação entre religião e sociedade política de forma que não pode ser concebida hoje, pode-se constatar que existiam pessoas que além ocuparem com funções cúlticas ou religiosas podiam formar, separadamente, centro de poder na sociedade política. Esta formação permitiam que grupos detentores de forte base religiosa podiam conquistar autonomia e poder por intermédio de valores universais, e ideologia, e por meio de uma associação de membros relativamente aberta.

Estudos anteriores sobre os fariseus

As abordagens sobre os fariseus em sua maioria têm procurado superar a redução das informações do período do segundo Templo invocando para a abundância da literatura rabínica, ainda que tais fontes datem de séculos posteriores e não tenha a pretensão de serem histórico.

Uma abordagem sociológica

Não se pode inferir sobre um grupo ou um povo sem fazer análises criteriosas, quer ser sejam arqueológicas, literárias, históricas, lingüísticas para compreender o que está em foco da pesquisa. Desta forma Saldarini vai dizer que para compreender a dinâmica interna dos textos antigos a pesquisa busca situá-los em seu devido contexto.

Os erros na descrição e na compreensão dos fariseus, escribas e saduceus tem sido abundantes. Os estudiosos têm frequentemente tratado os fariseus como um grupo de classe média, embora não houvesse nenhuma classe média na Antiguidade. Têm caracterizado os fariseus e os saduceus como grupos religiosos separados da política, não obstante na Antiguidade a religião estivesse entretecida na sociedade política e fosse dela inseparável. Os fariseus têm sido vistos com artesãos urbanos eruditos, num tempo em que artesãos eram sem instrução, pobres e desprovidos de poder. Pg. 25


A leitura da Antiguidade com categorias e estruturas sociais modernas pode produzir fatos antagônicos ao modelo social estabelecido naquele período. Por isso, para Saldarini as teorias de estruturas sociais devem associar-se aos estudos sociológicos dos impérios antigos e aos estudos antropológicos da civilização pré-industrial mediterrânea. Porém todas as sociedades mediterrâneas estudadas pela antropologia têm sido influenciadas pela moderna sociedade industrial e pela ênfase medieval e moderna no individualismo. Ainda que alguém atinja o que típico na Antiguidade, ficará sempre com o problema histórico: será que as coisas eram exatamente assim? Houve algum tipo de mudanças com o passar do tempo, na sociedade ou no grupo estudado?
Há, portanto, um grande perigo no uso dos métodos e, especialmente nos resultados da sociologia e da antropologia é a abordagem impertinente, na qual categorias criadas com a finalidade de organizar informações e testar hipóteses são impostas aos textos ou lidas neles. Para Saldarini essa exegese necessita de sensibilidade para com os textos e para com os limites das categorias cientificas.

Uma vez estabelecido o contexto social para esses grupos e para a sociedade judaica do primeiro século, os documentos do período e documentos posteriores que tratam do período e documentos posteriores que tratam do período podem ser interpretados e integrados mais facilmente em um quadro coerente. Os fariseus acreditavam na ressurreição e os saduceus não.


O uso das ciências sociais

Para se interpretar os textos e a história antiga se faz necessário o uso de mecanismos. Pois mesmo diante de tantos desafios se faz necessário se aproximar ao máximo do que se busca a fim de alcançar um resultado satisfatório. Sendo assim as ciências sociais têm sido usada tipicamente como instrumento de interpretação dos escritos históricos. Para tanto esta apresenta três modos de interpretação: 1) Heuristicamente, a fim de produzir questões a serem usadas no estudo dos textos. 2) Descritivamente, a fim de oferecer aquilo que se acha nos textos quando para preencher os lapsos de nosso conhecimento e por fim 3) Como explanação, a fim de mostrar como todo o sistema social opera e com as partes se afetam mutuamente.
Para se compreender os grupos sociais aqui apresentando se faz necessário esta instrumentação interpretativa bem como sociológica das fontes e relação das classes, sociais e suas representações visto que na sociedade judaica alguns sacerdotes hereditários eram membros de classes superiores como governantes e como servidores de famílias, enquanto outros eram membros de classes inferiores, como agricultores e artesãos. Os proprietários rurais podem ser líderes nacionais, ricos e poderosos, ou pequenos líderes locais, ou camponeses empobrecidos apenas de passagem.
Dentro dessa prerrogativa vale ressaltar quer relações de poder, influência, e obrigações são categorias simbólicas que tem por força sua representação naquele contexto social.

Conclui-se portanto, que os fariseus devem ser compreendidos como parte da sociedade judaica palestinense e da antiga sociedade – que difere significativamente da sociedade moderna, a fim de evitar uma retroprojeção anacrônica dos conceitos e categorias modernas.

Classes sociais na sociedade judaica palestina e no Império Romano

Durante os períodos helenístico e romano, os judeus na Palestina viviam em uma sociedade agrária. “Os impérios agrários são marcados por uma hierarquia muito rígida e grande desigualdade, com o controle e a riqueza nas mãos de poucos.” As sociedades eram constituídas por duas classes principais: uma grande classe de camponeses, que produz o alimento e faz funcionar a sociedade, e uma pequena elite, a classe governante, que protege os agricultores contra agressões externa e vive à custa do excedente agrícola produzido pelos camponeses.
Porém os camponeses tende a cultivar apenas aquilo de que necessita ou podem utilizar. Conseqüentemente, a classe governante precisa organizar de tal forma a sociedade que os camponeses sejam obrigados a produzir um excedente que lhe possa ser subtraídos, normalmente mediante altos impostos. “Em busca destes objetivos, uma família caponesa tinha de lutar contra o excesso de impostos (30% a 70% da colheita), concorrência acirrada com outros camponeses pelos limitados bens disponíveis e pressão política constante a limitar-lhe a liberdade.”

A classe governante não se dedicava diretamente ao trabalho agrícola, essa referida classe mantinha sua posição com a assistência daquilo que LENSKI chama de “criados ou servidores”, que desempenhavam papéis militares, governamentais, administrativos, judiciais e sacerdotais na sociedade. Esses servidores, que eram em sua maioria, pessoas que habitavam nas cidades e que atendiam às necessidades da classe governante como, soldados, educadores, funcionários religiosos, artista e hábeis artesãos. Para Saldarini é aqui que nos deparamos com os fariseus. Esses servidores, tão logo galgassem posições de poder, eles podiam torna-se parte da classe governante, ou pelo menos gozar bem mais de seus poderes e privilégios.
LENSKI distingue nove classes significativas no sistema de classe nos impérios agrários, cinco pertencentes às classes superiores e quatro, às inferiores. As classes superiores são: o soberano (uma classe em si mesma), a classe governante, a classe dos servidores, a classe comerciante e a classe sacerdotal. As classes inferiores são: os camponeses, os artesãos, a classe impura ou degradada e a classe dispensável.
Segundo Saldarini, os fariseus enquadram-se perfeitamente bem na classe dos servidores como grupo religioso e como uma força política que interagia com a classe governante, influenciava muitas vezes a sociedade e às vezes obtinha poder. Ainda segundo Flávio Josefo, os fariseus possuíam a confiança do povo e exerciam enorme influência: “Eles são um grupo (syntagma) de judeus que parecem mais pios (contrario de “im-pio”) do que outros e parece que interpretam as leis mais precisamente”. Segundo EVARISTO e SCHORR MALCA no livro Sábios Fariseus, os fariseus para defender suas posições, às vezes comportaram-se politicamente como aderentes, associados aos governantes. Isso os levou a estar relativamente submetidos a outros corpos políticos em Jerusalém (herodianos, sacerdotes, anciãos e sumos sacerdotes), mesmo que sua influência e sua autoridade fossem fortes e expressivas na Galiléia.
Os fariseus, conforme descrito por Josefo, ajustam-se quase prontamente à classe dos servidores. Todavia, carecemos de um indício crucial no que diz respeito ao lugar deles na sociedade, a fonte de seu sustento econômico. Nem Josefo nem os evangelhos esclarecem as fontes da base financeira deles, mas o seu poder e a sua influência são mais importantes do que seus recursos financeiros, e teria sido a chave de seu poder e influência.

Fariseus e saduceus como grupos de interesse político em Flavio Josefo

“Uma visão panorâmica da sociedade em Flavio Josefo” Josefo nasceu em 37-38 a.C. e proveio de família sacerdotal. Foi bem-educado e bem ligado aos chefes dos sacerdotes e a outros líderes do judaísmo em Jerusalém. Ele mesmo afirma que estudou ou tentou estudar todas as filosofias importantes e, finalmente, escolheu os fariseus, embora nenhuma tendência farisaica possa ser encontrada em sua interpretação do judaísmo. Logo depois da guerra, Josefo escreveu um relato dos acontecimentos em aramaico para os judeus da Mesopotâmia.
Tem-se surgido também, com certa probabilidade, que Josefo escreveu mais memória da guerra, a qual usou no relato de suas próprias atividades na Guerra e em sua Vida posterior. Na Guerra, Josefo manifesta diversas tendências e preconceitos. Ele apresenta a melhor imagem possível de si mesmo, absolve os romanos da culpa pela perda de Jerusalém e louva os Flavianos, especialmente Tito. Ele atribui também a destruição do Templo e acontecimentos, bem como toda a história, à vontade de Deus, e em suas narrativas das perdas judaicas emerge por seu destino e sofrimento. Depois da morte de Agripa, (ele não morreu no ano 100, como alguns sustentaram), Josefo apresenta a história judaica como um registro da ação da providência divina e das leis divinas. Usa a história para passar instrução moral e religiosa, enfatizando como ignorância das leis de Deus todos que não executam a exemplo de Herodes que foi conduzindo ao desastre.
Somente quando o individuo ou grupos obtinham o poder reinante ou se tornavam importantes para os governantes é que Josefo concede-lhes minuciosas análises. Ele não apresenta uma descrição completa da aristocracia, muito menos do povo, nem tão pouco fala a respeito dos burocratas, escriba, sacerdotes (diferentes dos chefes dos sacerdotes) ou dos líderes locais como classes ou grupos separados. O ponto de vista assumido por Josefo é dos fariseus, outros grupos e classes judaicas são importantes forças menores na cena social, sendo assim, negligenciados, exceto quando têm influência política significativa. Seu principal interesse na última metade das Antiguidades da Guerra são as políticas da classe governante e o relacionamento da nação com os impérios que os rodeavam. Em tempo de bonança, ele focalizava os líderes que controlavam a sociedade, mas em tempo de mudança política e de levantes (por exemplo, no período hasmoneus tardio e novamente, depois da morte de Herodes, quando se rompeu a liderança judaica) ofereceu uma narrativa de todos os líderes e grupos importantes que disputavam poder e conhecimento.
Durante os reinados de João Hircano, Alexandre Janeu e Alexandra, Josefo retrata uma luta pelo poder nas classes governantes e nas classes dos servidores. Os fariseus aparecem durante o reinado de Hicano rivalizando-se pelo poder com outros grupos de interesse político. Eles possuíam seu próprio projeto para a sociedade judaica, contido em uma serie de tradições e regras que Josefo não descreve. Josefo vê os fariseus como um grupo organizado, a que ele chama de syntagma, algo que é ordenado, tal como uma unidade militar, uma constituição política ou um grupo civil reconhecido por uma constituição.
Durante o tempo de agitação, no final do reinado de Alexandre, o próprio rei cessante propôs à sua esposa e sucessora, Alexandra, que juntasse ao redor dela novo grupo de partidários e servidores, os fariseus. Tanto Alexandre quanto Alexandra compreendeu que a posição deles como soberano estava em perigo, e assim, tomaram medidas para consolidar o seu poder, realizando uma coalizão com o grupo mais influente entre o povo, os fariseus. Os fariseus entraram na coalizão e estabilizaram a transição de Alexandre para Alexandra, acalmando o povo. Alexandra deu aos fariseus o que eles queriam apoio legal para sua interpretação particular do judaísmo e algum poder e direito para administrar negócios domésticos. Com isso, os fariseus usaram o poder para atacar os rivais, a antiga classe governante. No relacionamento com Alexandre, os fariseus podem ser visto da melhor maneira como um grupo de interesse religioso-politico, uma associação corporativa, espontânea, “organizada para a busca de um interesse ou de diversos interesses comuns”. Na confusão que se seguiu à morte de Alexandra, os fariseus não são mencionados e é provável que eles tenham perdido a influencia e a popularidade junto ao povo devido ao modo pelo qual exerceram o poder sobre eles e, assim, perderam o poder político para os grupos de interesse, coalizões e facções rivais.
Tanto os fariseus quanto os saduceus eram pequenos grupos no complexo tecido social do judaísmo na Judéia. Os fariseus são, com certeza, um grupo de interesse político que pretendia influenciar o modo segundo o qual a vida judaica era vivida de forma social, religiosa e politicamente. Os saduceus provavelmente constituíam também um grupo desta mesma categoria. Os fariseus, em sua maioria, eram servidores, ou seja, um grupo cujos membros não possuíam riquezas e poder independentes, mas estavam sujeitos à classe governante. Alguns fariseus faziam parte da classe governante e do sinédrio e, às vezes, os fariseus gozavam de uma base de poder parcialmente independente mediante sua influencia junto ao povo. Os poucos saduceus que aparecem em Josefo provêm da classe dirigente, mas sua cultura, seu numero, seu projeto e sua influencia sobre a classe governante são obscuros. Embora Josefo tenha escrito a fim de favorecer sua própria interpretação da sociedade judaica, sua imagem dos fariseus e dos saduceus é coerente com o que sabemos dos impérios agrários e, portanto, sociologicamente provável em linhas gerais. Uma completa apreciação dos fariseus e dos saduceus em Josefo precisa ser precedida da descrição que Josefo faz destes dois grupos. _________________________
Bibliografia

SALDARINI, Anthony – Fariseus Escribas e Saduceus na Sociedade Palestinense - São Paulo. Paulinas. 2005
MIRANDA, Evaristo E. de, _________ MALCA, Jose M. Schorr – Sábios Fariseus – São Paulo. Edições Loyola. 2001.
LOHSE. Eduard – Contexto e ambiente do Novo Testamento. São Paulo. Paulinas 2a edição. 2004
BROWN, Raymond E. Introdução ao Novo Testamento – São Paulo. Paulinas.
[1] SALDARINI, Anthony – Fariseus Escribas e Saduceus na Sociedade Palestinense - São Paulo. Paulinas. 2005